Adriano Gambarini

Um fotógrafo costuma depender dos olhos para fazer arte. Adriano Gambarini dependeu não só dos olhos, mas também dos pés. Na infância queria ser andarilho. Cresceu entre as ruas de São Paulo, as praias de Itapuã, as cavernas nos rincões do país. Por causa das cavernas, Gambarini foi estudar Geologia na USP. Por causa delas, passou a fotografar. Com uma câmera pequena, pela primeira vez, experimentou os segredos da luz e da sombra. Encontrou-se. A partir daí, ávido por saber,  autodidata, pôs-se a ler tudo sobre a imagem, porém a grande lição encontrava nos livros de arte que ele colecionava. Antes da foto, era a forma que o seduzia. Descobriu a perspectiva, a linha de fuga e permitiu-se aplicar a técnica dos mestres da pintura em sua arte fotográfica. Assim fez da fotografia, profissão, e fez-se andarilho. Mas antes mesmo, já seguia seus passos na escrita. Com caderneta e caneta na mão, foi descrevendo suas próprias histórias e de tantas pessoas que conheceu; cortou um Brasil imenso, colheu cerejas na França, mergulhou nas águas quentes da Grécia; sentiu a colorida China, ajoelhou-se diante as milenares ruínas do Camboja, sobrevoou icebergs no continente gelado, desconcertou-se no paradoxo da Índia, curvou-se ante a África anciã.

Com seus cinco sentidos, experimentou os cinco continentes.

Em 30 anos, fotografou onças, aves, florestas e montanhas. Mas a natureza, sozinha, não fazia sentido. Adriano especializou-se em mostrar o homem, cientista ou caboclo, e sua interação com o meio ambiente. Percebeu que o conhecimento só se torna sabedoria, se for compartilhado. Hoje possui um dos arquivos fotográficos pessoais mais diversificado do país, eternizando com a mesma sensibilidade operários em minas e monges budistas, fauna e flora nos quatro cantos do Brasil, templos e ruínas milenares, o outono parisiense e a seca nordestina. Para os olhos de Gambarini, posaram índios, orientais, negros, brancos, urbanos, lavradores. Andarilhos, como ele. De cada um, Adriano fotografou a melhor luz e a melhor sombra, pois, acredita, não existe o ser sem sua sombra. Tem obras premiadas no exterior. Suas fotos ilustram revistas nacionais e estrangeiras, livros infantis e ficções, publicações científicas. Publicou dezoito livros, um deles dedicados à poesia. Aliás, Adriano Gambarini não é fotógrafo. É um poeta que escreve com a luz.

Lais Duarte, Jornalista, TV Cultura.