Xavante e a força de ser
Blog National Geographic Brasil
Inicio a história com a força dos Xavante amarrando meus punhos. Há décadas tenho seguido o movimento dos remos silenciosos cortando águas escuras. Lugar original, definido íntegro e puro por si só, onde não há contatos ilusórios ou digitais. O que há é real, é tocável, é cheirado à fumaça densa de lenha queimada. Lá a energia vem do olhar forte de um povo guerreiro, da luz amarelada do candiero, da brincadeira ingênua e infantil das gerações futuras. Em outros cantos, nas rabetas que cortam igapós e igarapés está a sabedoria empírica dos povos ribeirinhas; nos tachos quentes o calor amarelado da sobrevivência e da farinha. Nas matas ainda primarias as aves ensurdecem as réstias de sol. Nos campos devastados pela ganância branca, num mar verde e monótono surge a necessidade ávida em relembrar os entes, passados. Mas devem os brancos lembrar que se não mantem a história, não se cria futuro.
Já não me basta apenas o registro, a fixação do momento na imagem que já não é o que foi visto. Ou se um dia assim foi, brota agora o desejo incondicional do desapego. Pois é fugaz a imagem sem o aprendizado, é volátil sem o compartilhar.
A vida está ai, no Calcanhar de Aquiles, disto e daquilo que já não sabemos se existirá ou não. E aos incautos que insistem em blasfemar que tudo acaba, percebam que o fim é só o recomeço num outro estado daquilo que deixou de ser. A recriação começa se algo finda. Simples.
Findo as palavras com a força dos Xavante nas entrelinhas desta tão humilde retratação. Sentir a cena antes do gesto incondicional de registrar. Ou só olhar. E quem sabe, num momento lúcido de ser, o ver.
Corina Moyen
11 de agosto de 2020 @ 15:07
Mais uma história forte e densa! E fotos maravilhosas!!!! Continue, por favor, compartilhando essa sua experiência única de vida. 🙏🏻
Marcos Przygocki ((48) 99825-8445)
3 de setembro de 2020 @ 18:48
Saudações, muito grato pela sua partilha, tão importante sobretudo no momento que vivemos!
Carla (on)
7 de abril de 2021 @ 18:19
A coexistência entre nós e a natureza é o tema que produz sentido para mim, acabei de encontro com teu trabalho pelas pesquisas relacionadas a vida selvagem que fazia. Ele trouxe mais que conhecimento, hoje é minha rota de fuga. Conteúdo que ensina, abraça, transforma e acolhe, mas o mais importante, traz esperança.
Adriano Gambarini
8 de abril de 2021 @ 09:18
Olá Carla, obrigado pela mensagem! Fico muito feliz de ver meu trabalho e crenças fazerem parte do seu processo de conhecimento e busca na sua vida. Siga neste caminho de conexão com a natureza, pois é a única e melhor forma de se viver!