O urso preto

Blog National Geographic Brasil

Estive no Tennessee semana passada, mais precisamente no Parque Nacional Smoky Mountains, na Montanhas Apalaches. Assim como diversos fotógrafos brasileiros expressam uma vontade ímpar em ver uma onça pintada em vida livre e acabam por navegar nas águas calmas do Rio Paraguai, um dos meus maiores sonhos como viajante era ver um urso. Estas montanhas são moradia do urso preto e resolvi buscar por este encontro, mas bicho solitário é sempre um incógnita.

Depois de alguns dias insistindo na melhor área que me indicaram para visualização de urso, mas já meio desistindo desta história, vi uma corcova preta, bem longe, no meio do capim alto dos campos. Será? Só pode ser! Tem que ser!

Parei o carro e comecei uma caminhada ressabiada pelo campo, enquanto tentava acompanhar o rumo do bicho. Uma frase que li num panfleto informativo do parque não saia da minha cabeça: Bear is dangerous. If the animal changes its behavior, so stay tuned!  Ou algo do gênero, mas o recado estava dado. Mas segui os mesmos ‘protocolos’ que criei para os inúmeros trabalhos que fiz no Brasil acompanhando animais selvagens. Atento, respeitando sempre o limite da confiança. Só que urso é urso,  e afinal eu não sabia exatamente como ele se comportava. Só me tranqüilizei quando percebi que tinha atravessado um pequeno córrego e seguido para outro campo.

“Bom, temos um vale entre nós. Acho que tenho uma boa distância”, pensei.

E já estava mais do que emocionado ao vê-lo dar o ar da graça levantando a cabeça para cheirar o ar, quando o vejo ficar em pé para alcançar algumas folhas numa árvore!

– O bicho ficou em pé! É muita sorte a minha! – gritei em pensamento.

Enquanto eu buscava uma lacuna entre os galhos e capins, o urso resolveu subir na árvore! Meu dedo não parava de clicar (nestas horas tenho que agradecer a era digital). Foi o momento em que pude chegar mais perto, afinal, agora eu tinha um vale e ele estava em cima da árvore. Nada poderia dar errado. E não deu!

Foram certamente os dez minutos mais fantásticos desta viagem, e até agora me pergunto como um bicho daquele tamanho consegue subir naqueles galhos tão finos. Alguns rangers que viram a foto calcularam em torno de 250 libras, algo como 110 kg.

E mesmo que alguma desventura tecnológica sumisse com estas fotos, eu o teria na minha lembrança. Eu tento sempre manter meu conceito primordial de viajante: a memória humana e a capacidade de contar uma história tem o mesmo valor, e às vezes maior, do que centenas de imagens digitais.

A experimentação, muitas vezes, é mais importante do que o resultado.

Smoky Moutains, EUA, 2012.

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